Já foi dito que a cada quinze anos os brasileiros esquecem o que aconteceu nos quinze anteriores. Hoje, muitos estão tendo orgasmos cívicos ante a delação premiada dos donos da empreiteira Odebrecht. E ninguém olha para trás para saber como surgiu e cresceu essa empresa. A delação tenta passar o Brasil político de hoje a limpo. Mas, e o passado desse poderoso grupo é tão limpo assim?

Essa empresa cresceu à sombra da ditadura, fazendo “favores” aos gorilas e a seus apaniguados, como os Milton Campos, os Delfim e os Andreazza da vida. Para se ter ideia, até a década de 1960, as obras da Odebrecht mal ultrapassavam os limites da Bahia. Durante o (des)governo de Costa e Silva, começou a dar saltos. Primeiro, construiu o modernoso prédio da Petrobrás, no Rio. Os contratos na estatal abriram portas para novos projetos, como o aeroporto do Galeão e a usina nuclear de Angra. Assim, de 19ª empreiteira em faturamento, em 1971, pulou para a 3ª em 1973. E nunca mais deixou o top das 10 mais. Outra beneficiada foi a Andrade Gutierrez, que saltou de 11ª para o 4º lugar de 1971 para 1972. E outras, como Camargo Correa e Mendes Júnior cresceram vertiginosamente.

Odebrecht e demais empreiteiras continuaram sua saga “Brasil Grande” – slogan ufanista da ditadura Médici. Obras como Ponte Rio-Niterói, Transamazônica, Itaipu, Tucuruí, Ferrovia do Aço não faltavam. Até por aqui, por nossa “Terra dos Altos Coqueiros”, esses grupos deixaram seus rastros. O Centro de Convenções, a duplicação da Caxangá, o nosso sucateado metrô… Para se ter ideia, a Odebrecht fez o projeto e foi pegar financiamento na Alemanha, que viria a fornecer os trens. Na época, a Veja – toc, toc, toc, – disse que era o único metrô do mundo que ligava coisa alguma a lugar nenhum. É tanto que, para viabilizá-lo, tiveram que ligá-lo ao TIP, outro elefante branco que estava abandonado no meio do mato, lá no Curado. O terminal rodoviário já estava tão ultrapassado, que tiveram que afundar o piso, pois os ônibus modernos não cabiam nas plataformas.

Foram essas empresas que lavaram a égua durante a ditadura e continuaram a lambança governos afora. E agora vêm a pousar de neo-desvirginadas… Lembrem que, já em 1996, o polêmico jornalista Paulo Francis denunciou um milionário esquema de corrupção na Petrobras. Como ele também tinha cidadania americana, foi processado pela estatal nos Estados Unidos em um milhão de dólares. Sem condições de arcar com essa monstruosa sentença, acabou sofrendo um infarto, vindo a falecer em 1997.

Tudo bem, apontem os corruptos e corruptores recentes, mas contem também sua história pregressa. A nação brasileira agradeceria. A Odebrecht saiu das sombras para alumiar um pouco da história do país. Falta acender mais sua lanterna e clarear o seu passado.