Manoel Bione
O sol surgiu por trás das montanhas,
Jogando suas agulhas de ouro sobre o mundo.
As pessoas despertaram
Sentindo-se diferentes.
Os doentes já não sentiam falta-de-ar
E, aliviados, começaram a dançar.
Os médicos e enfermeiros também
Foram possuídos por uma euforia cautelosa.
Mesmo assim ensaiaram alguns passos tímidos
De uma improvisada ciranda com seus pacientes.
Nas ruas, aos poucos, carros começaram a buzinar
À medida que a alvorada dava lugar a uma manhã
De luminosidade nunca vista.
Pelas calçadas, os poucos transeuntes passavam.
Com o tempo seus passos, num crescendo, viraram uníssonos.
O vírus já não existia.
Um grupo de cientistas de várias partes do mundo
Conseguiu mapear o DNA do vírus matriz.
Foi ele que deu origem aos outros milhões que
Se espalharam pela terra.
Daí criaram um minifoguete, o trancafiaram
E detonaram o artifício do ponto mais alto
Da Muralha da China.
O foguete subiu bastante, e de longe, nos cinco continentes,
Assistiu-se a um clarão e um estrondo.
De repente, todos os vírus descendentes daquela matriz sumiram.
Fez-se um carnaval espontâneo no planeta.
Ao longe ouvia-se um sambinha
Do inesquecível Nelson Cavaquinho.
E em todos os recantos as pessoas entendiam a letra:
“O sol há de brilhar mais uma vez/
A luz há voltar aos corações/
Do mal será queimada a semente/
O amor será eterno novamente”…