Os chatos não são Deus, mas são onipresentes (estão por toda parte, onde menos se espera); onipotentes (podem tudo para azucrinar a vida do cristão); e
oniscientes (sabem de tudo, desde que tenham que se contrapor aos temas que está-se conversando amigavelmente)

Aqui vai um exemplo. Estava eu na minha visita rotineira à Bodega de Veio, na Serra Negra, a sorver vagarosamente minha cachaça Água Doce. Eis que
não mais que de repente surge um cara boçal, perguntando se aquela cachaça era boa. “Eu gosto bastante…” respondi. Ele me encarou com ar de deboche e
fez menção de pegar meu copo para provar. Eu segurei o copo e protestei: “Epa! Se quiser provar peça uma dose pra você”. Ele, a contragosto, pediu uma
dose, tragou e vaticinou: “Essa cachaça é uma merda!”. Eu fingi que não escutei e me dirigi para o garçom meu amigo: “Marquinhos, depois do
enochato, acabei de conhecer o cachachato.” Ele acusou o golpe e saiu bodejando: “É, acho que não agradei…”

Um notório antichatos era Jamelão, que chegava às raias da grosseria. Contam que uma vez uma mulher ao avistá-lo declarou: “Jamelão, meu
puxador predileto!”. Ao que ele rechaçou: “Puxador é ladrão de carro, maconheiro, tu, teu pai e tua mãe. Eu sou intérprete!”. Doutra feita, uma moça
ao encontrá-lo, tentou beijar a sua mão. Só mais uma. Na época dos apagões aéreos, estavam sentados à espera de seu voo Jamelão e Cauby Peixoto. Um
amigo meu presenciou a cena, já que eles vinham cantar no Festival da Seresta do Recife. Jamelão estava dando um cochilo e começou a roncar, ao que Cauby o cutucou: “Jamelão, que coisa mais feia, roncar no aeroporto!”, Jamelão abriu um olho, à maneira do cachorro do Mickey e vaticinou: “Feio é dar o cu, Cauby!”. E voltou a roncar.

Agora vamos aos chatos que nos interessam:

1) Chato Leão: Além de inconveniente e egoísta, é melindrado. Se alguém o chama de mala, joga tudo para cima, xinga, quebra a mobília e agride com fúria
animal. Nas redes sociais é o tipo que polariza até a ponto de ameaçar de morte os outros comentadores.

2) Chato sanguessuga: É o chato ortodoxo. Aparece do nada e gruda nos outros, sugando-lhes o sangue e a energia vital. Há relatos não-oficiais de
cidadãos que nunca mais recuperaram seu eixo após entrarem em contato com o parasitismo desse ser inconveniente. Ele chega na tua casa de mala e cuia
depois de se separar. Daqui a pouco tá querendo mandar em tudo, Chega ao ponto de, na tua ausência, demitir a empregada, “que não passava de uma
incompetente”, mas é incapaz de lavar a louça que usou. Possui o que se costuma chamar de olhar de seca-pimenteira.

3) Chatos pseudo-novo-rico: São aqueles supostamente melhores que os demais. Sua principal tarefa é ser grosseiro, demonstrar falta de respeito
perante pessoas que eles julgam inferiores, como serviçais, garçons, etc. Ostentam a própria superioridade e andam por aí com uma expressão esnobe
no rosto. Lembra o tipo Ibrahim do Subúrbio, de Nelson Rodrigues. Em uma peça, Nelson retrata o tipo que só lê coluna social e que seu sonho é o seguinte: Se tiver de morrer atropelado, que o seja por uma Mercedes. No final, morre atropelado por um triciclo de entrega de pão.

4) Chatos vítimas do destino – Costumam reclamar o tempo todo, mas não fazem nada além disso. Na sua opinião, os outros só alcançam o que querem
porque têm os contatos certos, contam com parentes ricos ou por serem sortudos. Pessoas desse tipo se acham bodes expiatórios, como se ficassem
com a parte ruim da vida. Se alguém tenta demovê-los dessa ladainha. Eles rechaçam com um “sim, mas…” Com sua cantilena de perdedor, estampam um
sorriso de triunfo-maligno nos lábios, sempre acompanhado com a frase: “Tá vendo, ninguém consegue me ajudar…”