Manoel Bione

Foi como uma pedrada na cabeça, ou melhor, no coração, que recebi a notícia da morte, por Covid, de meu amigo-irmão Nani. Ernani Diniz Lucas, seu nome de batismo, era conhecido em todo Brasil, por suas vinhetas na Globo, por sua tirinhas diárias Vereda Tropical e por suas charges que ocupavam página inteira, no saudoso semanário O Pasquim.

Conheci Nani nas minhas idas ao Rio. Na época, eu alternava minhas atividades como cartunista do Jornal do Comércio e do Diário da Noite, com charges publicadas no Pasquim, que depois viraram uma página semanal com o título de Papa-Figo – também publicado e distribuído no Recife.

Daí em diante nossa amizade foi crescendo. Se ele vinha ao Recife, eu o apanhava no aeroporto e o hospedava na minha casa. Do mesmo modo, quando eu ia ao Rio, ficava sempre em seu apartamento, no bairro de Laranjeiras. De lá, nós saíamos a bebericar, geralmente com Jaguar e, às vezes, além de Jaguar, Millôr e os irmãos Caruso.

Nani era conhecido por todos como o cartunista mais profícuo de sua geração. Além de cartunista ele tinha dezenas de livros publicados pela LP&M Editora. Era excelente contador de causos de sua terra natal, Esmeraldas, em Minas Gerais.

Certa noite, íamos voltando de um show de uma Banda que contava com alguns membros do Casseta&Planeta, quando Nani começou a contar causos mineiros e eu intercalava com causos pernambucanos. A determinada altura o motorista do táxi parou e deu o ultimato: “Ou os senhores param de contar essas histórias ou eu vou acabar batendo de tanto rir. Me digam
onde é o show que você estão apresentado que prometo ir assistir”. Nós rimos e terminamos a corrida em paz.

Até recentemente Nani mantinha um blog Nanihumor, do qual eu transcrevi algumas charges no Papa-figo. Ave Nani, os que vão morrer de rir te saúdam. E choram.

Manoel Bione é médico e cartunista, criador do Blog papafigo.com